Saiba como a muçulmana Fatima al-Fihri fundou a universidade de Al Quaraouiyine, em 859, e como sua iniciativa foi importante para a história do Marrocos.
Se tivesse que dar um palpite sobre onde fica a universidade em atividade mais antiga do mundo, você diria que é no Marrocos? E ainda, que ela foi fundada por uma mulher? Não.
Provavelmente, pensaria em alguma instituição européia, como a Universidade de Bologna, na Itália (1088), a de Salamanca, na Espanha (1134), ou a de Oxford, na Inglaterra (criada entre 1096 e 1167).
Porém, a verdade é exatamente essa. A Universidade de Al Quaraouiyine se encontra na cidade histórica de Fez, no Marrocos, e foi estabelecida em 859 por Fatima al-Fihri – uma jovem tunisiana que fez sua vida no Marrocos. A universidade é reconhecida tanto pela UNESCO quanto pelo Guinness Book, o Livro dos Recordes, como a instituição de ensino ainda em atividade mais antiga do mundo e a primeira a conceder diplomas universitários.
Originalmente, a Universidade de Al Quaraouiyine foi fundada como mesquita e madraça — uma espécie de escola para estudos dedicados ao islamismo — e foi um dos principais centros educacionais e espirituais do mundo muçulmano.
Já a sua fundadora, filha de um importante mercador chamado Mohammed al-Fihri, pertencia a uma das muitas famílias xiitas que emigraram da Tunísia para o Marrocos no século IX. Mais precisamente, a família de Fatima era de Kairouan — daí o nome da mesquita — e, uma vez no país, os al-Fihri se uniram à comunidade xiita que já se encontrava instalada na próspera cidade de Fez.
A jovem, que depois se naturalizou marroquina, recebeu um alto nível de educação e era profundamente devota ao islamismo. Quando seu pai faleceu, ela herdou uma enorme fortuna, a qual decidiu usar para construir uma mesquita e um centro educacional, onde a comunidade xiita pudesse aprender e prestar devoção a Alá. Com o passar do tempo, o local ampliou suas atividades.
Além do ensino religioso e da memorização do Alcorão, Al Quaraouiyine passou a oferecer aulas de linguística e caligrafia árabe, legislação islâmica, política, matemática, química, medicina, astronomia, ciências naturais, música e sufismo. A instituição, então, se tornou um prestigioso centro educacional e de pesquisa científica. Vale ainda destacar que a mesquita, após diversas expansões, se tornou a maior da África, com capacidade para 22 mil fiéis.
Quando Fatima al-Fihri fundou a Universidade Al Quaraouiyine, o mundo muçulmano estava no começo dos cinco séculos da “Era de Ouro do Islã”. Embora tenha sido fundada por uma mulher há mais de 1.160 anos, estudantes mulheres só começaram seu aprendizado na Al Quaraouiyine, em números significativos, recentemente. O que pode ser uma boa notícia ou a prova de que mudanças marcantes para a educação das mulheres vêm acontecendo no Marrocos, ou seja, a educação islâmica está sendo usada também pelas marroquinas como um veículo para defender seus direitos e status social.
Mesmo que contada brevemente, a história de Al Quaraouiyine e Fatima al-Fihri mostra que não é a toa que Fez é considerada a capital cultural e espiritual do Marrocos. Realmente imperial, sua atmosfera de velho mundo vai além da universidade e leva todo e qualquer viajante a uma jornada no tempo com uma rica fonte de saber.
Fez, a cidade mais autêntica do Marrocos
Fez já foi capital do Marrocos inúmeras vezes e é a segunda maior cidade do país, ficando atrás apenas de Casablanca. Foi fundada no século IX, com grande parte de sua estrutura intacta desde a época. Andar por suas ruas é como voltar à Idade Média – uma experiência caótica e mágica ao mesmo tempo.
Como acontece em toda cidade islâmica tradicional, as ruas de Fez são como labirintos, e, ao contrário do que acontece na maior parte dos países, onde as ruas delimitam as casas, lá ocorre o contrário. As casas foram criadas primeiro e o que sobrou virou rua.
No mais, Fez ostenta diversos atributos da antiguidade, que são muito bem preservados nos dias atuais. Cheia de ruas famosas, portais, fontes, Medinas e templos, você pode conhecer os mais prestigiados como a Medina Fez El Bali, a mais antiga de Fez, fundada no século IX e considerada patrimônio cultural da UNESCO.
O templo Zaouia de Moulay Idriss II foi construído em 1440 e é onde os restos mortais de Moulay Idriss II está, o fundador de Fez e governante do Marrocos durante o século IX. E, o templo Zaouia sid Ahmed Tijani, onde estão os restos mortais de Ahmed Tijani, fundador de uma das ordens do islã.
Muitos são os atrativos para você conhecer Fez, principalmente aqueles, como estes citados, que chancelam a cidade como a capital cultural e espiritual do Marrocos.
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